Apesar da sua fome, evite gráficos com nome de comida!

Bruno Brasil Faceira
6 min readNov 3, 2020

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Realmente é difícil, às vezes incontrolável, a vontade de utilizar gráficos com nome de comida quando estamos preparando um relatório antes do almoço. Não deixe seu subconsciente te dominar, utilizar algumas dessas visualizações tornarão sua comunicação totalmente pobre e desnecessária.

Este artigo tem o objetivo de apresentar algumas formas de visualização de dados que são extremamente comuns em grandes empresas, jornais, televisão e artigos científicos, e que de certa maneira, são visualizações ruins.

Entendendo o porquê dessas visualizações serem ruins, será apresentado formas de substituir esses gráficos por outros que sejam mais expressivos e com melhor poder de comunicação.

Sem mais delongas, vamos começar pelo pior gráfico que você poderia utilizar e que certamente você utiliza: gráfico de pizza!

Gráfico de Pizza

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Amo pizza, mas não utilizaria esse gráfico em um relatório. Resumindo, gráfico de pizza são ruins!

Para entender melhor, vamos ver um exemplo.

O gráfico abaixo representa a participação no mercado de quatro fornecedores. Faça uma análise rápida — qual é o maior fornecedor desse mercado?

Rapidamente você conseguiu identificar o maior fornecedor? Se você precisasse avaliar a proporção que o Fornecedor B ocupa no mercado, que porcentagem você poderia estimar?

  • 35%?
  • 40%?

Veja que acontece quando achatamos e adicionamos os números às fatias.

Muitas pessoas diriam que o Fornecedor B era o maior, e quando adicionamos os valores foi possível observar que o Fornecedor A era o maior. Mas por quê isso acontece?

Existem dois problemas que apresentam um desafio para a interpretação correta desses dados. O primeiro deles é a utilização do gráfico de pizza em 3D. Gráficos 3D não servem para nada e podem distorcer a percepção visual dos números, nesse caso, ele torna as partes superiores mais afastados e menores do que realmente são, enquanto as partes inferiores ficam mais próximas e maiores. Diante disso, nossa primeira regra: Não use gráficos 3D!

Quando tiramos o 3D o gráfico fica achatado, e aí vem o segundo problema e o porquê dos gráficos de pizza serem ruins. O olho humano não consegue atribuir valor quantitativo no espaço bidimensional, ou seja, é difícil ler gráficos de pizza. Quando os segmentos têm tamanhos parecidos é difícil (às vezes impossível) dizer qual é o maior. E quando identificamos qual é o maior, não é possível avaliar quanto.

Para solucionar o problema, poderia adicionar números dentro do gráfico ou inserir legendas, mas o visual não vale o espaço que ocupa e aumentaria a carga cognitiva desnecessariamente.

Se você for utilizar um gráfico de pizza, pare e pergunte-se: por quê? Se puder responder essa pergunta, possivelmente terá refletido suficientemente para utilizá-la, mas certamente esse não deve ser o primeiro tipo de gráfico a ser empregado, dadas as dificuldades citadas.

Se é difícil de ler, vale a pena?

Gráfico de Rosca ou Donuts

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Apesar de serem macios e deliciosos (provavelmente você gostaria de um agora), não os utilize para visualização de dados!

Com a visualização em formato de pizza, pedimos ao público-alvo para comparar ângulos e áreas. Com um gráfico de donuts, ou rosca, estamos pedindo para comparar comprimento de arcos. Quão confiante você se sente para atribuir valores quantitativos a um comprimento de arco?

Não muito? Pois bem. Não use gráficos de rosca!

Solução para gráficos de pizza e rosca

Ok! Gráficos de pizza e rosca são ruins. Então, qual é a solução?

Podemos simplesmente utilizar gráficos de barras horizontais!

Com gráficos de barras, nossos olhos comparam os pontos extremos. Como as barras são alinhadas em uma linha de base comum, é fácil avaliar o tamanho relativo. Isso facilita ver não apenas qual segmento é maior, mas também o quanto, incrementalmente, é maior que os outros segmentos.

Diferentemente do gráfico de pizza, o gráfico de barras permite ordenar a visualização de acordo com alguma ordem natural ou prioridade que queira ser apresentada.

Gráficos de Espaguete

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Certeza que você já está com água na boca ansioso pelo almoço, e nesse almoço cairia muito bem um espaguete, porém para a sua apresentação, evite esse gráfico. Gráfico de espaguete é uma visualização no qual as linhas se sobrepõem, tornando difícil focar uma série de dados por vez.

Esse tipo de gráfico é tão confuso quanto jogar um punhado de talharim cru no chão. Perceba a dificuldade que é focar em uma única linha. Esse fato ocorre por elas estarem competindo por sua atenção.

Um forma simples de resolver o problema do espaguete, seria usar atributos pré-atentivos a fim de chamar a atenção para uma linha por vez. Veja o exemplo:

Ou, poderíamos desembaraçar o gráfico separando as linhas espacialmente, como a seguir:

Não existe uma única resposta certa, cada situação tem suas peculiaridades e melhores soluções, mas quando se deparar com um gráfico de espaguete, saiba que existem formas de visualizações mais eficientes.

Gráfico de Waffle

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Para finalizar, vamos para a sobremesa!

Apesar de ser uma excelente sobremesa com sorvete, tome muito cuidado com esse tipo de visualização. Assim como nos gráficos 3D, o gráfico de waffle apresenta dificuldades de interpretação pelo os olhos humanos por ser um gráfico bidimensional.

Uma forma de utilizá-lo, seria em forma de área com números de magnitudes amplamente diferentes. Veja o exemplo:

Esse tipo de visualização, utilizado de forma correta, pode ser um diferencial na análise de desempenho e no controle de metas, funcionando muito bem como um fator psicológico motivador de uma forma mais descontraída e informal.

Análise de Desempenho

A conta, por favor!

Após esse extenso cardápio, chegou a hora de fechar a conta e aplicar o conhecimento na sua empresa, em seu artigo científico ou no seu dia-dia.

Espero que, de uma maneira descontraída, esse artigo tenha demonstrado que o mais importante na visualização de dados é entender o contexto e escolher o gráfico que permita comunicar claramente sua mensagem.

Evite gráficos sem objetivo e escolha aquele que seja mais fácil para o seu público ler.

Considerações finais

Se você gostou do conteúdo, recomendo o livro “Storytelling com Dados: Um guia sobre visualização de dados para profissionais de negócios” por Cole Nussbaumer Knaflic.

Linkedin: https://www.linkedin.com/in/bruno-brasil-8a34101b6/

Github: https://github.com/brunobf09

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Bruno Brasil Faceira
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Written by Bruno Brasil Faceira

Pilot & Operations Analyst at Brazilian Air Force.

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